segunda-feira, 24 de junho de 2013

A Vida e Morte de Michael Jackson, Sebastião Chicute - (Por: Thayná Clotilde Alves Pompeu) *



A literatura de Cordel está elencada ao Patrimônio Cultural e faz parte do segmento de cultura imaterial que reúne todos os tipos de saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas, as danças populares, lendas, músicas, costumes e outras tradições.
O porquê de preservar a literatura de cordel pode ser explicado pelo fato de que não só essa literatura, mas como todos os  artefatos relacionados ao Patrimônio Cultural, precisam de uma seguridade para a sua sobrevivência, perante uma homogeneização da cultura ampliada pelo processo de globalização, que permitiu uma produção em série de artigos culturais que faz com que aqueles percam a sua originalidade, afinal durante muito tempo, a maioria dos objetos materiais e também imateriais eram ora feitos à mão, de forma bem rústica, ou repassados de  geração em geração, o que guardava traços de memórias e subjetividade. Porém, agora, isso está ameaçado por essa grande industrialização que valora tais artefatos, ao invés de valorizá-los.
A literatura de Cordel não foge à essa mudança. Assim, é preciso que haja uma preservação da cultura dos cordéis, tendo no termo “preservação” a ideia de conservação, defesa e resguardo, sendo assim, se faz necessário guardar para o amanhã a nossa produção cultural original, defendendo a nossa memória social e o que ela nos proporciona, afinal são esses artefatos que definem a nossa identidade cultural.
Com esse intuito de preservação da nossa cultura da literatura de Cordel, a Secretária da Cultura do Governo do Estado do Ceará (Secult), que é referência quanto à legislação de Patrimônio Imaterial, promove através do programa “Tesouros Vivos da Cultura”, a seguridade da tradução cultural do cordel por meio de incentivos aos grandes cordelistas que mantêm viva essa nossa literatura, com auxílio financeiro e diplomação solene com o título de Mestre da Cultura. Tudo isso faz com que, embora em meio a mudanças, o cordel continue tendo o seu espaço dentro do Estado, e também seja resguardado como patrimônio nacional.
E é Dentro do grupo dos Mestres da Cultura, que tivemos contato com a presença de Sebastião Chicute. Nascido em Aratuba em 1934, desde menino se dedicou à literatura de cordel, influenciado, principalmente pelos “causos” bastante conhecidos à época que perfaziam o imaginário da população e que eram repassados através das rodas de conversas. Assim, é no de 1967 que ele lança seu primeiro cordel. Em 1970, ele se muda para a cidade de Capistrano, onde vive até hoje, mantendo sempre contanto com trabalhos que envolvem poesia, e que o ajudam a se inspirar a escrever os seus cordéis.
E é ao cordel de Sebastião Chicute, com o título “Vida e Morte de Michael Jackson” que esse trabalho vai voltar a sua atenção. Segundo o próprio mestre da cultura, suas histórias são baseadas em fatos reais e tentam passar a maior imparcialidade possível quanto aos casos, já que há toda uma questão jurídica por trás de tais acontecimentos, por isso se faz necessário, ao contar a história, não especular e se manter atento aos fatos. E é exatamente isso que Chicute faz com a história de Michael Jackson.
Nas seis páginas que ilustram o cordel, o cordelista narra a trajetória de vida de um dos maiores artistas do cenário da música pop, fazendo uma verdadeira homenagem após o seu falecimento. Assim, logo no começo, ele fala sobre a infância de Michael Jackson e a sua tumultuada relação com os pais e irmãos, e de como conseguiu, mesmo com dificuldades, conquistar o sucesso.
A questão da mudança da sua cor de pele, que sempre esteve presente quando se fala em Michael Jackson, é também retratado no cordel. Porém, diferente de outros meios, nele, o autor não crítica ou satiriza tal mudança, apenas a cita, afinal essa transformação física do cantor é uma das polêmicas no mundo dos famosos e pensar Michael Jackson é relacionar com o problema da sua cor de pele.
O cordel também faz referência à acusação de abuso de menores, o que marcou para sempre a fama de Michael Jackson. Porém, Chicute não entra em maiores detalhes, apenas falando que, por falta de provas, o cantor não fora indiciado. Como se vê, o autor se detêm a contar a história e não sensacionalizar a vida do cantor, já que tal fato sempre alvo de atenção por parte da mídia.
 Outra questão também pontuada pelo cordel é o motivo da morte do artista, que ficou por conta da autópsia, o que demorou um pouco para ser liberada pela mídia, assim, Sebastião apenas escreve que “Ninguém não sabe a maneira, se foi parada cardíaca que fez a sua derradeira”, sem fazer especulações, já que como dito anteriormente, por conta de questões jurídicas, os cordelistas devem se manter aos fatos assim como são transmitidos pela mídia, e assim, ele continua:

“Sobre o problema da morte
Ninguém tem explicação
Só depois de um laudo médico
É que vem a decisão
Pode ter sido um colapso
Que fechou o coração”

E nas últimas páginas, o autor fala sobre o velório do cantor, que contou pompas e presenças ilustres e que nos faz pensar como um menino pobre dos Estados Unidos conseguiu fazer tão sucesso ao ponto de o seu enterro ter sido assistido por milhares de pessoas ao redor do mundo. Os últimos versos do cordel retratam exatamente essa questão: “Nasceu num berço de barro, morreu num berço de ouro.”
Enfim, essa é a história do cordel em questão, mas que não é somente formado por uma boa narrativa, esse tipo de literatura tem uma estrutura específica e é se torna necessário abordá-la. A escrita de “A vida e morte de Michael Jackson é feita em redondilha maior (sete sílabas poéticas) e possui a divisão métrica A//B//C//B//D//B.
Vê-se, assim, que as mudanças citadas anteriormente, proporcionadas pela industrialização, também afetou, de certa forma, o conteúdo dos cordéis. Antes, os causos e histórias locais eram as grandes fomentadoras desse tipo de literatura, porém, com o intuito de se modernizarem e continuarem na ativa, os cordelistas decidiram que os fatos marcantes da mídia, os casos que chamam a atenção, e também mais modernos, poderiam ganhar um espaço nos seus cordéis, e é o que justamente acontece com “A vida e morte de Michael Jackson”. Isso permite uma renovação dessa literatura, como também serve para chamar a atenção de leitores, de todas as idades.  
Bibliografia.
PELEGRINI, Sandra C.A, FUNARI, Pedro Paulo A. O que é patrimônio cultural imaterial. São Paulo: Braziliense, 2008.
LEMOS, Carlos A.C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Braziliense, 2004. 

* Aluna do Curso de História da UECE, disciplina AÇÃO EDUCATIVA PATRIMONIAL, Prof. Dr. Francisco Artur Pinheiro Alves.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cordel de São Francisco. (Por: Geraldo de Sousa Paiva Junior *)

Resumo
Na sociedade contemporânea, a leitura é aptidão linguística primordial, surge como diferencial. Uma compreensão da linguagem como as Literaturas de Cordel, se torna instrumento de interação social, o que tem influído diretamente na prática cognitiva, social, cultural e política, isto é, uma leitura atrelada à realidade do individuo que perpetua a sua visão de um todo. Pois toda ficção parte de uma base real vivenciada. No cordel São Francisco, de autoria do mestre da cultura Sebastião Chicute, podemos notar sua interação com uma base real, embora apresente contexto bem subjetivo do próprio autor em relação ao sujeito de sua historia.

Palavras-chave: Cordel, São Francisco de Assis, Sebastião Alves Lourenço.

1.      Introdução
Partindo da perspectiva que a linguagem é uma base de interação social, a leitura se torna uma ação do sujeito. Essas ações sendo de forma social, política, econômica, cultural e cognitiva. Tomando por esse baseamento, o Cordel, este ligado diretamente a base cultural.
Abrangendo a cultural no aspecto material do objeto e a base imaterial, sendo a literatura ou as ideias. Mesmo se o Cordel tenha exageros de modo figurativo, não podemos desvincular, pois esta literatura popular estabelece uma relação com a cultura e com a sociedade. 
A cultura pode ser definida como tudo aquilo que é produzido pelo homem, à ação do homem no tempo e espaço. O Cordel pode ser trabalhado num caráter sociocultural, como representação social.
A Literatura de Cordel incide numa poesia narrativa, caráter popular, de procedências e cultura nordestinas. Retrata a ficção e a realidade dessa região, e atualmente se expandiu para realidades diversas, voltada para o contexto social vivenciado pelo homem no mundo. É retratado com simbologia nordestina. Essas narrativas literárias eram realizadas apenas oralmente, alguns anos, ela passou a ser idealizada de forma escrita ou impressa em folhetos, por meio de versos rimados.
O Cordel de São Francisco esta estruturado em quatro partes especifica, e esta abordando um único tema: São Francisco de Assis.  Primeira parte do cordel retrata os versos ritmados da vida de São Francisco e sua trajetória religiosa. O autor Sebastião Alves, estrutura seu poema narrativo em 24 versos ritmados da vida de São Francisco de Assis da matriz de Canindé. Coloca assim a religiosidade da cidade de Canindé. Podemos perceber nas rimas do cordel sua contextualização.
“Mil cento e oitenta e um
Na cidade de Assis
Nasceu Francisco das Chagas
Assim a história diz
Veio aqui no ceará
Fazer Canindé feliz”

Percebemos que Canindé passa ser a cidade da ida de São Francisco, que depois de sua morte, veio para essa cidade empobrecida pela seca fazer seus milagres. E graças a São Francisco de Assis a felicidade se encontrou na região. A cidade de Canindé é uma cidade que nos últimos tempos se tornou uma cidade de turismo religioso, aonde as pessoas devotas ao santo vão prestam devidas homenagens e também agradecer por algum milagre em sua vida, porem essa migração se torne algo de lucro para os comerciantes locais e para o aumento da produtividade da região.
Nos primeiros versos do cordel de São Francisco, ele vai abordado e fazendo a contextualizando, para que as pessoas que o ler possa ter um resumo biográfico do Santo, sua origem de comerciante, a guerra que o Santo participou, essa seria as Cruzadas, o começo da vida religiosa de São Francisco. No quarto ao nono, Sebastião Alves aborda um enredo da passagem da vida de comerciantes que São Francisco tinha para uma vida de entrega a Deus.
Nos versos seguintes faz referencia a pobreza que o Santo passou a optar para sua vida devota aos pobres e a Igreja. Nos décimo terceiro verso, aborda a ordem que São Francisco fundou, sua viagem pelo mundo mulçumano pregando a pobreza e a caridade. Do décimo oitavo ao vigésimo terceiro narra o fim de São Francisco, como homem santo, mártir. Que viveu seu chamado pelo sofrimento e pela oferta de sua vida com caridade e devoção aos mais humildes.  Homem que cumpriu seu ideal e sua missão na terra.
  A segunda parte do Cordel de São Francisco tem como tema Milagre alcançado em 1952, dividido em três versos curtos. Nesses versos o autor menciona uma situação de perigo e na segunda rima fazer referência ao ocorrido milagroso, no ultimo verso esclarece que a historia de são Francisco é mediante a fé e que não é algo que se possa ser explicado somente pela razão, o racional.
“Obrigação do poeta
É lhe dizer como é
A história de São Francisco
Toda é mediante a fé
Se Quiser acreditar
Não deixe de visitar
São Francisco de Canindé”      

Ultima parte do cordel esta divido no Cântico em honra de São Francisco e no verso da capa esta a oração de São Francisco. O Cântico se torna mais uma ladainha em homenagem a esse Santo de cunho de devoção. Fazendo uma representação da vida de Cristo e a vida de São Francisco, que compara a vida dos dois, pelo qual São Francisco se espelhou em Cristo por toda sua vida.   
Nesse cordel percebemos a cultura nordestina, que traz em sua narrativa o apelo à vida religiosa, aos milagres, a devoção, ao carinho, que não faz distinção de nação, mas que a religião, a fé a próxima, que faz um santo da Cidade de Assis e o coloca próximo, numa Cidade do interior do nordeste, Canindé.
Compreendemos a subjetividade dos versos, em colocar para o leito, que é uma situação de fé em acreditar, do apelo religioso para cidade de Canindé, em visitar esse lugar. Do contexto histórico de São Francisco, filho de comerciantes, de classe rica, que participou das convocações para as cruzadas, do seu chamado a vida religiosa, de sua ida a damasco, da sua visita à igreja, da sua fundação religiosa, do seu trabalho de caridade para com os pobres, das dores e de sua morte.
Esse cordel no só representar a vida de São Francisco, mas todos aqueles que por algum motivo o aprecia como homem ou como santo. Simboliza a religiosidade da cidade de Canindé, do apelo turístico. Simboliza a devoção aos milagres e as orações, os sujeitos miseráveis, que são marginalizados pelo Estado, que sofreram descasos, que só tem sua fé para confortá-los, como algo que os livra-se de toda dor, dos descasos do Estado, mas também que os livras de coisas simples da vida.



Graduando do curso de História- Universidade Estadual do Ceará (UECE), disciplina AÇÃO EDUCATIVA PATRIMONIAL. Prof. Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.

OS PRIMEIROS ESCRAVOS NO CEARÁ – ABOLIÇÃO 1884. AUTOR: SEBASTIÃO ALVES LOURENÇO ( Por : CAMILA BANDEIRA MOURA *)


Retrato aqui um dos bens de cultura imaterial, um dos que temos de mais rico na região nordeste, bens estes que dizem respeito às práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, celebrações, modos de fazer, formas de expressão cênica, plásticas, musicais ou lúdicas, assim também como nos lugares, as práticas culturais coletivas.
A literatura de cordel enraíza no cotidiano a história, a memória regional e nacional, a identidade e a formação da sociedade brasileira. É assim que comento a literatura de cordel de Sebastião Alves Lourenço, conhecido como Sebastião Chicute, mestre nas categorias de cordel e reisado. Nasceu no município de Aratuba-Ce, em 1934, e desde a infância se dedica à literatura de cordel. Faz seu primeiro cordel para o comércio de venda no ano de 1967. Já em 1970 muda-se para outro município, Capistrano, onde diversifica seus trabalhos no campo cultural. Em 2006 recebe o diploma de Mestre da Cultura Popular Brasileira do Estado do Ceará.
A literatura de Sebastião Chicute no cordel ‘’Os primeiros Escravos no Ceará –Abolição 1884’’ nos traz a preocupação do autor com a inspiração divina que lhe presentearia com o dom poético para escrever seu trabalho. Além da escravidão dos negros, também retrata o trabalho escravo feito por indígenas, ‘’e sendo os primeiros escravos/ por caboclos eram chamados’’. Falou também da proteção que a igreja dava a regime de escravidão com os padres jesuítas que catequizavam os índios em nome de da ‘’ordem social’’. Mostra o aumento populacional no interior do Ceará, ‘’claro que tinha que aumentar/ quase trinta mil escravos/ somente para trabalhar’’, fala da relação entre tráfico negreiro e o crescimento populacional na segunda metade do século XIX, chegando à metade dos habitantes serem escravos que trabalhavam com os serviços mais pesados. Lembra também de José Martiliano, pai de José de Alencar, e sua preocupação em amenizar o sofrimento dos escravos. Fala da cooperativa fundada por dez moças ao final de 1880 que destinavam os lucros para a alforria de escravos, uma ‘’entidade solidária’’ onde os trabalhos realizados em prol da alforria eram apenas do conhecimento de poucos. Fala dos revolucionários em prol da liberdade, da alegria das batalhas e da felicidade ao fim da escravidão. É bonito ver a lembrança que o autor faz a justa importância das mulheres na causa abolicionista, ainda pouco vista nos livros de história. Nos traz a lembrança os cativos do Acarape, que tem sua liberdade no dia 1º de janeiro de 1883, com a presença de ilustres abolicionistas, mas alfineta, e fala da desunião do município de Acarape com sua nova divisão, onde parte da região passa a se chamar Redenção, em lembrança a liberdade dos escravos que viviam ali. Passa por outras cidades citando as vitórias abolicionistas além de Fortaleza, como Sobral, Trairi, Pacatuba, Santa Quitéria, Camocim, Morada Nova entre outras, ‘’foi caindo um por um/ e fazendeiro achando ruim’’. O município de Fortaleza  não deveria esquecer jamais dos trabalhos desumanos, assim diziam os discursos após o fim da escravidão, ‘’parabéns abolição’’, finaliza o cordel lembrando da abolição ‘’somente assinada/ em forma d edital’’, no dia 13 de maio de 1888 pela princesa do Brasil, Princesa Isabel.

Reconhecer a importância do cordel como parte do nosso patrimônio cultural é reconhecer a nossa cultura lembrada nos versos de cordelistas como Sebastião Chicute que nos traz com riqueza de informações um momento tão importante para a história da abolição dos escravos do Ceará. É a literatura popular, hoje reconhecida, que traz parte da cultura nordestina e brasileira que além de nos proporcionar conhecimento, nos desperta o interesse pela leitura. Interesse este que fez surgir no nordeste poetas de expressão como Patativa do Assaré e nos revela a riqueza musical de Luiz Gonzaga, que sintetiza a grandeza da arte popular nordestina.

* Aluna do Curso de História da UECE, disciplina AÇÃO EDUCATIVA PATRIMONIAL, Prof. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.

Cordel: “Na casa que o casal briga”. Sebastião Chicute. (Por Rafael Lima Xavier *)



          O cordel que escolhi para realizar o presente trabalho, fala de um dos assuntos mais comentados e debatidos no âmbito familiar; discussões e intrigas entre marido e mulher.
          Sebastião Alves Lourenço, “Sebastião Chicute”, faz uma excelente e divertida análise sobre esses acontecimentos em: “Na casa que o casal briga”. Com versos bem rimados e expressões cotidianas, o autor nos leva há uma espécie de “cordel narrativo”, onde o leitor consegue sentir-se como dentro de uma residência onde um casal discute.
          “Chicute” apresenta vários motivos que desgastam uma relação, o primeiro é o ciúme que segundo ele faz o “casal ter credibilidade” (6°verso). O segundo motivo seria brigas por “asneiras”, “na cama que eles dormem nunca falta uma goteira” (10° verso); por causa disso como nos afirma  “Chicute”, um perde a confiança no outro e a paz naquela casa deixa de existir para se tornar uma “novela” (12° verso).

          Para concluir a análise desse bom cordel cearense nada melhor do que uma boa “moral da história”, isso “Chicute” faz muito bem ao dizer a receita para o casal ser feliz: “Não deixem faltar três coisas amor, caridade e fé e se faltar todas três já se sabe como é pois sempre a briga de dois foi um que pisou no pé” (23° verso). Ainda nos dá um bom exemplo a seguir: “Desejo felicidade para os casais do dia-a-dia não esqueçam de lembrar o exemplo de Maria este modelo exemplar ou então devem imitar Sebastião e Luzia”. ( 24° verso).
* Aluno do Curso de História da UECE, diciplina AÇÃO EDUCATIVA PATRIMONIAL, Prof.Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.

Historiografia Brasileira em Capistrano de Abreu ( Por: Eduardo Sousa de Goes).*

              João Capistrano Honório de Abreu foi um historiador brasileiro, nascido no município de Maranguape, no Ceará, em 23 de outubro de 1853. Cursou humanidades no Recife em 1869, ao voltar ao estado natal, fundou a Academia Francesa, com ideais progressistas e anticlericais, fixou-se no Rio de Janeiro, em 1875, onde exerceu o magistério e foi grande colaborador dos jornais fluminenses, como O Globo e a Gazeta de Notícias.
 Capistrano foi eternizado no campo histórico por ter protagonizado uma renovação metodológica de interpretação e investigação da história do Brasil. Esta nova ótica da história brasileira foi materializada na obra Capítulos de História Colonial, editado inicialmente me 1907, tal obra dissocia-se do ideal até então bastante difundido, que via a História do Brasil a partir da descoberta portuguesa, modelo defendido pelo historiador Francisco Adolfo Varnhage. Foi a partir da abordagem de Capistrano de Abreu que os povos nativos brasileiros residentes nestas terras antes dos portugueses tiveram visibilidade histórica. O autor também se distancia da chamada história factual, onde os emblemáticos fatos e heróis são exaltados, em detrimento do olhar coletivo da sociedade.
Enquanto Varnhagen, em sua obra História Geral do Brasil, centraliza sua visão às elites brasileiras, em especial à figura do imperador, Capistrano demonstra seu interesse em demonstrar o povo brasileiro como sujeito de sua história, de modo a observar e valorizar as essências indígenas do Brasil, bem como levantar questionamentos relacionados às raças e ao etnocentrismo. Valores relacionados à figura do colonizador português, à dominação étnica, aos direitos das elites, à sociedade escravista e aos direitos gerais da sociedade dominante tudo isso dá lugar à valorização do nativo brasileiro, seus costumes, seus interesses, sua cultura e sua natureza.
Capistrano de Abreu torna-se um “redescobridor” do Brasil ao ser o primeiro a estabelecer as identidades do povo brasileiro, a partir de uma visão não mais presa aos assuntos políticos, mas através de uma ótica humana de abordagem. A obra de Capistrano torna-se referencia ao destacar temas sócio-econômicos, obtendo fontes e testemunhas e documentos inéditos para a construção de um discurso histórico moderno e inovador. Além destas particularidades de Capistrano, uma de suas características mais importantes, no ponto de vista historiográfico, é a considerável carga interpretativa em suas obras, afastando-se cada vez mais dos ideais positivistas de abordagem, para o autor a História não é uma questão de fato, ela exige imaginação que penetre o motivo da ação.
Diferentemente de Varnhagen, Capistrado de Abreu uma escrita distante do erudito, linguagem mais acessível e simples, baseado em abordagens mais socioeconômicas do que propriamente políticas. O autor dá voz àqueles que até então eram tratados com indiferença ou vistos de forma periférica, transformando a história em um mecanismo vivo e dinâmico, onde diferenças regionais, étnicas e culturais desenvolve uma grande ciranda que movimenta as discussões e interpretações históricas. Capistrano muda o sujeito da história do Brasil, assim como desenvolve a diversidade de objetos e de temáticas históricas, as elites vão abrindo espaço ao povo brasileiro, que aos poucos vai construindo sua identidade nacional, baseada em suas reais origens.
Aluno do Curso de História da UECE, disciplina: Laboratório de História do Brasil, prof. dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.


              



   


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Literatura de Cordel e o Mestre Sebastião Chicute ( Por MÁRCIO DE SOUSA GURGEL*)

Literatura de cordel também conhecida no Brasil como folheto, é um gênero literário popular escrito frequentemente na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos. Remonta ao século XVI, quando o Renascimento popularizou a impressão de relatos orais, e mantém-se uma forma literária popular no Brasil. O nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal. No Nordeste do Brasil o nome foi herdado, mas a tradição do barbante não se perpetuou: o folheto brasileiro pode ou não estar exposto em barbantes. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, também usadas nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores. Para reunir os expoentes deste gênero literário típico do Brasil, foi fundada em 1988 a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro.


História

Literatura na forma de folhetos ou panfletos tem sido usada ao longo de séculos, como meio económico. Folheto holandês de 1637, durante a tulipomania

A história da literatura de cordel começa com o romanceiro do Renascimento, quando se iniciou impressão de relatos tradicionalmente orais feitos pelos trovadores medievais, e desenvolve-se até à Idade Contemporânea. O nome cordel está ligado à forma de comercialização desses folhetos em Portugal, onde eram pendurados em cordões, chamados de cordéis.1 Inicialmente, eles também continham peças de teatro, como as de autoria de Gil Vicente (1465-1536). Foram os portugueses que introduziram o cordel no Brasil desde o início da colonização.

Chegada ao Brasil

A literatura de cordel chegou ao Brasil no século XVIII, através dos portugueses. Aos poucos, foi se tornando cada vez mais popular. Nos dias de hoje, podemos encontrar este tipo de literatura, principalmente na região Nordeste do Brasil. Ainda são vendidos em lonas ou malas estendidas em feiras populares.

De custo baixo, geralmente estes pequenos livros são vendidos pelos próprios autores. Fazem grande sucesso em estados como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Bahia. Este sucesso ocorre em função do preço baixo, do tom humorístico de muitos deles e também por retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região. Os principais assuntos retratados nos livretos são: festas, política, secas, disputas, brigas, milagres, vida dos cangaceiros, atos de heroísmo, milagres, morte de personalidades etc.

Em algumas situações, estes poemas são acompanhados de violas e recitados em praças com a presença do público.

Um dos poetas da literatura de cordel que fez mais sucesso até hoje foi Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Acredita-se que ele tenha escrito mais de mil folhetos. Mais recentes, podemos citar os poetas José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), Téo Azevedo. Zé Melancia, Zé Vicente, José Pacheco da Rosa, Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra, João de Cristo Rei e Ignácio da Catingueira.Vários escritores nordestinos foram influenciados pela literatura de cordel. Dentre eles podemos citar: João Cabral de Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.

Poética do cordel:

- Quadra: estrofe de quatro versos.

- Sextilha: estrofe de seis versos.

- Septilha: é a mais rara, pois é composta por sete versos.

- Oitava: estrofe de oito versos.

- Quadrão: os três primeiros versos rimam entre si; o quarto com o oitavo, e o quinto, o sexto e o sétimo também entre si.

- Décima: estrofe de dez versos.

- Martelo: estrofes formadas por decassílabos (comuns em desafios e versos heróicos).

Literatura Oral

Faz parte da literatura oral os mitos, lendas, contos e provérbios que são transmitidos oralmente de geração para geração. Geralmente, não se conhece os autores reais deste tipo de literatura e, acredita-se, que muitas destas estórias são modificadas com o passar do tempo. Muitas vezes, encontramos o mesmo conto ou lenda com características diferentes em regiões diferentes do Brasil. A literatura oral é considerada uma importante fonte de memória popular e revela o imaginário do tempo e espaço onde foi criada.

Muitos historiadores e antropólogos estudam este tipo de literatura com o objetivo de buscarem informações preciosas sobre a cultura e a história de uma época. Em meio a ficção, resgata-se dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos, objetos, linguagem, arquitetura etc.

Podemos considerar como sendo literatura oral os cantos, encenações e textos populares que são representados nos folguedos.

Exemplos de mitos, lendas e folclore brasileiro: saci-pererê, curupira, boto cor de rosa, caipora, Iara, boitatá,

lobisomem, mula-sem-cabeça, negrinho do pastoreio.



Histórico:



Sebastião Chicute começou a brincar de reis, como ele diz, em 1952. “Naquele tempo os meninos iniciavam brincando de dama, não tinha maldade, hoje os meninos não querem vestir a roupa de dama.” Como dama, criança, pode observar todos os passos e todas as gingas do reisado com os mestres e caboclos que brincavam à época.

Esta primeira experiência foi vivenciada na serra de Aratuba.. Lá segundo ele havia muitos reisados,”todo mundo brincava na festa dos reis.” Então ele foi crescendo neste ambiente. É do reisado que trouxe a vertente do cordel que veio desempenhar mais tarde.

De Aratuba veio para Capistrano e sempre cultivando a tradição dos reis. Durante o resto do ano fazia quermesses, outra tradição popular nascida nas festas da igreja, nelas os destaques eram as rainhas dos partidos azul e encarnado, assim se chamava o vermelho antigamente. Em Portugal ainda é assim. Bricou reisado praticamente todos os anos, passando por todas as personagens e figuras do reisado.

Na década de 80 foi para Itapiúna. Lá teve apoio da Prefeitura. Se apresentou em Fortaleza na feira dos municípios e para a dra. Lirisse Porto, uma admiradora do reisado e da cultura popular. O grupo de Itapiúna t segundo ele era bem organizado, tinha todo apoio: material, vestimentas e transporte.

Na década de 90 veio definitivamente para Capistrano. Brincou nesse período no reisado do mestre Chico do Mundô e depois organizou o seu grupo com os mais antigos do lugar, com os quais brinca até hoje.

Com a criação da secretaria de Cultura em 2005, o grupo teve um novo impulso brincando em vários lugares dentro e fora do município de Capistrano.

Diferentemente de outras formas de literatura, o cordel é derivado da tradição oral. Isto é, surge da fala comum das pessoas, e também das histórias como contadas por elas, e não como fixadas no papel. "Onde quer que existam populações que não sabem ler nem escrever, existirá poesia oral, conto oral, narrativa oral, porque as pessoas não acham que o analfabetismo pode impedi-las de praticar a poesia e a narrativa. A literatura nasceu oral e foi assim durante milênios. Quando a Ilíada e a Odisseia foram transpostas pela primeira vez para o papel, já tinham séculos de idade", afirma o escritor Braulio Tavares



DO REISADO AO CORDEL



As músicas de entrada do reisado e as das figuras. São decoradas, mas no seu desenvolvimento carecem da criatividade do mestre e seus auxiliares, que improvisam de acordo com o tema, com a clientela e o local. Daí surgiu no Bastião Chicute a sua “veia poética”. Ao descobrir a poesia viajou nela discorrendo vários temas em cerca de vinte cordéis publicados e inúmeros versos poemas e canções inéditas .Surge assim um cordelista, um poeta de banca, posto que não é violeiro. Mas a sua capacidade de improvisar no reisado é que dá originalidade nas suas apresentações.

Toda esta experiência está sendo passada para adultos , jovens e crianças que participam do seu grupo, como forma de manter a tradição.



MESTRE DA CULTURA

Sebastião Chicute, é um autêntico artista popular, que dedicou a sua vida à tradição herdada de seus antepassados repassados a ele por seus contemporâneos. Tanto no reisado como na literatura de cordel, tanto no rádio com seu programa tarde sertaneja, como nas quermesses quando ainda não tinha televisão no interior. Tem procurado, como foi dito repassar esta tradição para os que lhe acompanham, mas também para estudantes, da escola básica e superior, em Capistrano, Quixadá e ultimamente em Maranguape, proferindo palestras com seu linguajar de poeta popular. Por isso Chicute merece ser agraciado com o título de Mestre da Cultura do Ceará, que em muito boa hora chegou ao nosso Estado de forma pioneira, pela Secretaria de Cultura do Estado.

A palavra cordel significa justamente por esse atraso grande que existia, nos princípio num era atraso, era um jeito de ser, aquilo mermo quem diz, diz a velha, o velho ditado, quem num tem cachorro caça com gato, né? Pois bem, se ninguém tinha cola, ninguém tinha gráfica. Qué que fazia um cordel? Melava de grude, estendia numa vara, numa corda assim (Seu Sebastião pega o livreto que tem em mãos, abre-o e simula um cordel estendido numa corda) e por esse motivo ficou sendo literatura de cordel [..].

É possível observar que a maneira de falar do cordelista exerce bastante influência em sua escrita, o que nos possibilita um leitura de que tudo é válido para manter e valorizar a sonoridade do poema levantando reflexões do que viria a ser “o correto” ou “o errado” segundo as normas da gramática que condena algumas práticas desta tradição, como a falha na concordância, conforme podemos observar neste pequeno fragmento do cordel A vida e a morte de Frei Damião:

[...] Resolveu vir para o Brasil

Foi este o seu ideal

Bom frade bom confessor

Nos trabalhos clerical

Foi um servo que viveu

Pra nos defender do mal [...]

* Aluno do Curso de História da UECE, disciplina AÇÃO EDUCATIVA PATRIMONIAL, Prof. Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES

CORDEL: VIDA E MORTE DE LEANDRO do MESTRE SEBASTIÃO CHICUTE ( Por Clesivaldo Araújo Silva Júnior *)

Lembro como se fosse hoje, duas da maiores tristezas que senti como criança.Uma havia sido a morte do ídolo Airton Senna, e a outra a morte do primeiro e único cantor que me fazia cantar seus sucessos, Leandro, que formava dupla com seu irmão Leonardo.



Essa pequena introdução sobre o assunto deste artigo, baseado na obra do Cordelista Sebastião Mendes de Sousa, serve para demonstrar os motivos que me levaram a escolher estudar o cordel feito em sua homenagem, escrever sobre um ídolo.



De forma graciosa o mestre Sebastião declama em seus versos um breve resumo da vida de um dos maiores músicos que o Brasil produziu, fato este retratado em uma comoção nacional durante os dias que antecediam sua futura morte. Podemos observar em seu cordel, a sapiência de Sebastião ao descrever tal fato.





Com esta e outra noticia

Pra quem assistiu não nega

Foi a morte de Leandro

Dor que família carrega

Nesse dia a seleção

Perdeu pra Noruega



Com a Morte de Leandro

Brasil inteiro chora

A falta do grande ídolo

A música piora

Leonardo ficou só

Pensa como faz agora





Menino pobre, nasceu em Goianápolis interior de Goiás, batizado como Luís José da Costa, sempre sonhou em ser famoso e largar a vida de trabalhador rural. Aos poucos, já como adutlo, junto com seu irmão, foi fazendo sucesso nas pequenas cidades de Goiás.



Tal sucesso chamava a atenção de programas musicais e gravadoras. O grande salto na carreira aconteceu após o sucesso “Entre tapas e Beijos”, que lhe rendeu sucesso nacional, principalmente com auxílio da mídia televisiva. Foram mais de 25 milhões de discos vendidos em 23 anos de carreira da dupla de irmãos, que seria interrompida pelo câncer e a morte de Leandro dia 23 de junho de 1998.



No hospital São Luiz

Ele ficou internado

Submeteu-se a exames

Tendo pouco resultado

Sempre os médicos garantindo

Deixar o tumor curado



Sofreu parada cardíaca

No dia quinze do mês

De junho como já foi dito

Mas se repete outra vez

Ficou oito dias em coma

Faleceu a vinte e três



A su família chora

O mundo inteiro também

Com a falta do artista

A dupla não fica bem

Essa família enlutada

Só choro e tristeza tem





Capitamos nestes versos de Sebastião, sua sensibilidade em descrever como era visto o cantor Leandro, como sua morte trouxera ao povo uma tristeza ainda não curada pela morte do ídolo Senna 4 anos antes, em período de copa do mundo, também. Era uma comoção e uma vontade de vencer o torneio para homenagear esse ídolo, como fizera-se em 1994.



Leonardo não parou

Exerceu a profissão

Ainda que ver Leandro

Noutra reincarnação

Durante a vida do artista

Realizando a conquista

O desejo do irmão





Em seus versos e suas músicas, Leandro o compositor da dupla, buscava falar de amor, sendo de um jeito mais “caipira”, ou sendo um “ar” mais moderno, não importava o estilo, o prazer era voltado sempre em emocionar seus fãs,seus amigos e seu irmão, além deste que vos escreve.Assim, nosso autor, Sebastião em sua última homenagem ao grande Leandro, ou Luís José da Costa.





Assim Leandro falou

A música pertence a vós

Continue o seu trabalho

Esperançoso e veloz

Porque tudo que ganhamos

Dependeu da nossa voz



Termino pedindo a Deus

Perdão pra os pecados dele

Que as coroas divinas

Sejam colocadas nele

Leonardo ainda diz

Reze e não chore por ele





Agradeço ao mestre da cultura Sebastião Chicute por esta homenagem a esse grande artista brasileiro.

* Aluno do Curso de História da UECE, disciplina LABORATÓRIO DE TEORIA DA HISTÓRIA, Prof. Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

João Capistrano Honório de Abreu (Por: Anderson de Carvalho Gomes Martins *)


 João Capistrano Honório de Abreu nasceu no dia 23 de Outubro de 1853, na cidade de Maranguape, no estado do Ceará e morreu no dia 13 de Agosto de 1927 na cidade do Rio de Janeiro, era um historiador que também adentrou nas áreas da etnografia e da linguística; Capistrano de Abreu, como historiador, de inicio se baseava em conceitos retirados de pensadores como Comte, Taine e afirmava ser adepto do determinismo sociológico, mas posteriormente com a sua entrada na Biblioteca nacional, Capistrano entra em contato com obras de pensadores como Ranke e Sombart e passa a adotar a corrente do realismo histórico.
A “evolução” intelectual de Capistrano pode ser dividida em três partes; “na primeira parte” possuía influencia positivista e se identificava, bastante, com a noção de civilização da escola francesa; na “2 parte” Capistrano passa a ler e se identificar cada vez mais com a escola realista-histórica alemã, nesse período podemos notar um maior amadurecimento na escrita do historiador e por fim na “3 parte” ocorre um aprimoramento dos seus estudos na qual ele busca um apoio em outras ciências tais como a economia, geografia e sociologia.
Capistrano também é considerado um dos primeiros historiadores a dar uma relativa visibilidade às classes populares na historia socioeconômica do Brasil; a obra mais importante de Capistrano de Abreu e a “capítulos de uma historia colonial, 1550 – 1580.”.
Em 1869 foi para a cidade de Recife no estado de Pernambuco, onde cursou humanidades; em 1871, Capistrano de Abreu retorna ao estado do Ceará e na cidade de Fortaleza acaba por fundar a academia francesa que durou até 1875, ano que Capistrano de Abreu se muda para a cidade do Rio de Janeiro nessa cidade acaba se tornando oficial da Biblioteca Nacional, cargo no qual permanece de 1879 ate 1883, ano no qual defende a sua tese “O descobrimento do Brasil e o seu desenvolvimento no século 16” e assim ingressa no colégio Pedro II no qual foi professor de corografia e historia do Brasil ate o ano de 1889; vale ressaltar que Capistrano de Abreu também foi eleito como membro do Instituto histórico e geográfico brasileiro.
* Aluno da disciplina Laboratório de teoria da Historia, do Curso de História da UECE, prof. Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES

Capistrano de Abreu: Um fato a ser lembrado ( Por João Leondenes Facundo de Sousa Júnior *)



O motivo deste artigo não é trazer fatos novos sobre o famoso historiador cearense Capistrano de Abreu, mas sim, relembrar alguns fatos da vida de tão ilustre pessoa. Isso se justifica por dois argumentos: o primeiro, porque se trata de alguém que cuja pesquisa foi fundamental para se conhecer a vida dos sertanejos e os padrões de sua época, o segundo, pela importância que foi cidadão brasileiro e ainda é, tido por muitos como fonte de uma erudição vista em poucos.
Capistrano, no ano de 1907, era considerado o mais importante historiador brasileiro por fazer parte, como colaborador de Varnhagen, da publicação da Historia do Brasil. Ao participar de um concurso sobre teses que abrangiam a formação história do Brasil, aberto pelo Imperador D. Pedro II, Capistrano mostrou-se de uma inteligência nunca antes vista no Rio de Janeiro, pois, ao apresentar sua tese a mesma já ganhara repercussão através da Folha Nova, que veiculava a seguinte afirmação: “Naquele jovem historiador vê-se a musculatura do historiador valente de que sentimos necessidades”[1]. O motivo de tal engrandecimento à Capistrano, é porque nele se desenvolveu uma novidade ao apresentar no seu estudo crítico uma visão diferenciada sobre o sertão, o que posteriormente constituirá, uma das suas maiores contribuições para a história do Brasil[2].
            Qualquer atitude de recontar os fatos da vida deste grande historiador é pequena. A história de grandes homens não se mede somente pelos fatos que ocorreram em sua vida, mas também, na atualização e no reconhecimento de sua contribuição para os povos de outras épocas. Com Capistrano, a história do sertão deixou de ser um simples causo no afã de uma larga historiografia, para tornar-se uma perspectiva da qual pode ser lida toda a história do brasileira.


[1] Folha Nova, 16 de agosto de 1883, reproduzido na Gazeta de 20 de agosto de 1883.
[2] CAPISTRANO, de Abreu João. Capítulos de história colonial: 1500-1800 & Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1992.
* Aluno do Curso de História da UECE, disciplina Laboratório de  Teorias da História, prof. Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.

Poucas palavras sobre um grande historiador: Capistrano de Abreu e a criticidade de historiar. ( por: Kaliza Holanda da Silva *)


Fundador da progressista Academia Francesa de Fortaleza, João Capistrano Honório de Abreu (1853-1927) também “fundou” uma nova forma de escrever a nossa História. Dotado de incrível argúcia, Capistrano remodelou a historiografia, trazendo a esta um tom mais crítico e de maior sensibilidade.
A ele a História não parecia restringir-se somente aos fatos, não! Havia de se investigar os motivos, os quereres e os sentimentos. Vê-se neste ilustre historiador a capacidade de produzir a História pelo outro e para o outro, sem decepar de suas análises as diversas classes sociais compositoras de nosso Brasil.
Ao escrever “Capítulos de História Colonial”, Capistrano de Abreu tornou-se, com sua História voltada à análise do povo brasileiro, de sua cultura, suas lutas, suas misturas e seus costumes, da natureza local e seu clima, contra ponto de Varnhagen, que, filho de seu tempo, procurou dar na História que produzia ares de importância máxima à forma de colonização empregada pelos portugueses no Brasil, a fim de legitimar lhes o poder.
Conhecido como “O Heródoto do povo”, esse cearense autodidata utilizou-se de uma escrita moderna (para a época) que, mesmo documental e descritiva, descortinava ao leitor a variedade do povo brasileiro, valorizando o mestiço e o nativo, não impondo lhes apenas o papel de figuras secundárias. Devorador de livros, produzia prolificamente, trabalhando a fundo os assuntos os quais se dispunha analisar. Sua síntese fazia brotar as semelhanças e as diferenças que estiveram sempre intercaladas dentro do processo colonizador brasileiro, graças a isso pôde questionar as obras de seus antecessores, superando-os.
Creio que tudo o que se possa escrever, hoje, a respeito de Capistrano, corre o risco de não alcançar a paixão com que ele estudou a História. Se cada historiador de hoje busca-se o fato histórico e suas interpretações como ele buscou, quiçá a produção historiográfica brasileira conseguisse desabrochar mais uma vez, em nova floração. Enquanto isso, colhemos as flores que esse maranguapense nos deixou e depositamo-las aos pés de Clio, requerendo sua benção e sua inspiração. 
* -  Aluna da disciplina Laborátório de Teoria da História, do Curso de História da UECE., Prof. Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.