Capistrano
de Abreu: Pássaro Liberto
No
final do século XIX, os jovens letrados do interior do país viviam com seus
talentos podados na província ou tentavam alçar voos mais elevados na então
Capital do país, a cidade do Rio de Janeiro que concentrava toda a nata da
intelectualidade, cultura e conhecimentos gerais de nosso país. Mas pousar na Capital nacional não seria a
garantia de vida fácil ou triunfo garantido, muito pelo contrário, a maioria
dos jovens letrados que ali chegavam desaparecia no anonimato da Corte, que já
estava inchada dos chamados "homens de letras". É por isso que o próprio Capistrano chegou a
dizer que o lema de todo provinciano ingênuo e novato que se aventurava na
Corte seria: "Vir, Ver e Vencer".
Ele
Veio ao Rio no dia 25 de abril de 1875, aos 22 anos, vindo do interior da
província do Ceará, onde nascera a 23 de outubro de 1853. Chegou precavido e sabendo
que ao invés de estar adentrando em um ambiente acolhedor, estaria na verdade
em uma verdadeira arena de disputas onde só os mais fortes e sublimes
Venceriam.
Pouco
antes de deixar sua terra natal, tivera breve contato com um famoso
conterrâneo: o escritor José de Alencar, que sobre ele escreveu, em carta ao
amigo Joaquim Serra sobre o talento e as qualificações do jovem Capistrano que
muito iriam contribuir para o enriquecimento da cultura fluminense.
Alencar
foi uma espécie de padrinho de Capistrano ao apoiar sua vinda para o Rio.
Conheceram-se em 1874, quando o eminente escritor visitava sua terra natal.
Graças a Alencar, Capistrano obteve a importante recomendação de Joaquim Serra
ao poderoso Machado de Assis. E foi Provavelmente, essa recomendação que ajudou
Capistrano a conseguir seu primeiro emprego no Rio, na prestigiosa Livraria
Garnier, que, na época, foi chamada de "Sublime Porta", pois através
dela era possível ascender ao sucesso no mundo das letras. Com humor, dizia-se
que parar diante de sua porta era o mesmo que "posar para a
posteridade". Outro observador notou que aquela livraria não era "um
simples estabelecimento comercial, mas um clube, uma academia, uma corte de
mecenato". Seu trabalho era
escrever notas publicitárias sobre os livros lançados pela Editora Garnier. No
mesmo ano de 1875 estreou na imprensa carioca, publicando conferências que
pronunciara no Ceará, no ano anterior. Capistrano, que fizera as primeiras
letras na terra natal, não concluíra os estudos preparatórios para a Faculdade
de Direito do Recife na década de 1870. Era um autodidata com alguma
experiência como escritor, adquirida nos jornais de Fortaleza e nas
conferências literárias da "Academia Francesa" do Ceará. A imprensa
era, então, um polo atrativo para intelectuais de todos os cantos do país, e
Capistrano não foi uma exceção. Ao lado da diplomacia e do ensino, o jornalismo
completava o quadro das atividades intelectuais proeminentes.
Por essa época também atuou como professor de
francês e português no importante Colégio Aquino. Talvez tenha começado a ficar
conhecido no meio intelectual a partir de uma polêmica travada com um dos mais
importantes críticos literários de então, o sergipano Sílvio Romero. Em 1876, o
jovem Abreu (como então gostava de ser chamado), de 24 anos, publicou artigos
criticando um texto de Romero, intitulado O caráter nacional e as origens do
povo brasileiro, de acordo com o qual o brasileiro seria distinto do português,
não por causa da natureza ou da mistura com os indígenas, mas pela presença dos
negros. Utilizando a estratégia de citar
autores estrangeiros como argumento de autoridade e de reproduzir as
contradições do texto analisado, Capistrano se opôs à tese apresentada,
afirmando a importância do meio na formação da nacionalidade brasileira e
ressaltando o papel do elemento indígena.
O
escritor participara da cúpula da vida política do Império, chegando a ocupar o
cargo de ministro de Estado, no entanto, foi lançado ao ostracismo por D. Pedro
II, após ter criticado o livro A Confederação dos Tamoios (1856), de Gonçalves
de Magalhães - escritor que fazia parte do seleto grupo de protegidos do
imperador -, a política do governo e as qualidades intelectuais do monarca.
Ressaltando
o fato de Alencar ser seu conterrâneo, Capistrano o apresentou como "o
primeiro e principal homem de letras brasileiro", "o fundador da
literatura brasileira", chamando a atenção para um aspecto de sua obra: o
interesse pelo povo, por suas tradições, usos e costumes. Afirmou que seu nome
deveria figurar no panteão da história, ao lado de grandes autores
estrangeiros, e destacou seu empenho em "criar para si a imortalidade no
curto prazo de vinte anos", através de obras que as gerações futuras
deveriam ler como ensinamentos.
Em
1879, passou a integrar o corpo de redatores da Gazeta de Notícias,
especializando-se na crítica literária, e prestou concurso para a Biblioteca
Pública da Corte, conquistando o primeiro lugar. Ao lado do Arquivo Público e
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a Biblioteca era guardiã
de um precioso acervo documental e reunia profissionais conceituados por seus
estudos históricos, que Capistrano saberá explorar como ninguém trazendo a tona
as mais ricas e reveladoras reflexões e descobertas sobre a história do Brasil.
Mesmo
tendo encontrado um lugar de destaque na Biblioteca, Capistrano optou por alçar
um novo voo: prestou concurso para o Imperial Colégio de Pedro II, em 1883. A
cadeira disputada era a de maior prestígio: Corografia e História do Brasil.
Defendeu a tese O descobrimento do Brasil e foi aprovado por 17 votos contra 5.
No mesmo ano começou a lecionar. Com a extinção da cadeira de Corografia e
História do Brasil em 1899, Capistrano foi posto em disponibilidade, alegando
incapacidade para ministrar aulas de História Geral, por ser especialista em
História do Brasil. Antes de morrer, já era considerado um grande erudito,
espécie de "enciclopédia" viva da história pátria.
Capistrano
destacava-se pela "segurança da investigação, abundância da informação,
profundidade do saber e inteligência do assunto", qualidades que o
distinguiriam de seus antecessores e contemporâneos. Seu livro Capítulos de
história colonial é considerado por Veríssimo como "a síntese mais
completa, mais engenhosa, mais perfeita e mais exata que poderíamos desejar da
nossa evolução histórica". Síntese de aproximadamente trinta anos de
estudos históricos sobre o Brasil. O autor também chama a atenção para o
conhecimento da historiografia alemã por parte de Capistrano, valorizando sua
utilização de métodos seguros de investigação histórica. Também aponta a
presença de uma direção filosófica em sua produção, capaz de livrá-lo de ser
"um simples erudito". Seu grande mérito teria sido a capacidade
crítica, empregada na análise de documentos e na crítica dos estudos
anteriores.
Após
a sua morte no fim de década de 1920 muitos eram os comentários sobe o legado e
a pessoa de Capistrano dentre muitos destaquei este: "Esse historiador
'sertanejo' seria uma espécie de mediador entre os mundos da civilização e da
barbárie, por possuir aquilo que então se esperava de um historiador: erudição,
cultura geral, informações originais, "habilidade de investigação
minuciosa, aliada ao método de comparação, dedução e exposição" e, talvez
o principal, o "sentimento da terra e da gente" brasileiras.
Coelho
Neto, por exemplo, apresentou-o como "um estranho no meio e no tempo"
por seu temperamento arredio, interpretado como uma "sobrevivência do
'bárbaro', latente no supercivilizado". Em sua opinião, Capistrano era um
"selvagem, que o estudo tornou um dos expoentes máximos da nossa
cultura", de modo que "o livro o purificou da barbárie fazendo-lhe o
nome atingir a glória".
Como
observou Assis Chateaubriand, o grande mérito de Capistrano teria sido
compreender a brasilidade - propriedade distintiva do Brasil e do brasileiro -
traduzindo-a por meio de seus estudos sobre as línguas e os costumes indígenas
e, também, sobre a história colonial.
O
próprio Capistrano definiu-se, certa vez, como um velho vaqueano, cujos
conhecimentos práticos permitiam trilhar caminhos antigos, pouco ou nada
explorados, no terreno da historiografia e da linguística indígena.
Para
nós que somos cearenses ele é um orgulho, para os brasileiros ele foi um grande
colaborador da escrita da História Nacional, para o imaginário de nosso país
ele é um pássaro que conseguiu romper os grilhões que a vida lhe impôs, e
conseguiu Vir, Ver e Vencer alçando voo sob as asas etéreas do conhecimento
histórico e linguístico.
Notas Bibliográficas
·
VAINFAS, Ronaldo. Capistrano de Abreu - Capítulos de
história colonial. In: MOTA, Lourenço Dantas (Org.). Introdução ao Brasil:
um banquete nos trópicos. 2.ed. São Paulo: Senac, 1999, p.187. Ver, também,
ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial, 1500-1800. Belo
Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988, p.256.
·
ABREU, Capistrano de. O caráter nacional e as origens do
povo brasileiro, in 1976, 4ª série, p.3-24, originalmente publicados em O
Globo, Rio de Janeiro, 21 jan. 1876 e 8 mar. 1876, respectivamente; e
História pátria, in 1976, 4ª série, p.3-24, originalmente publicados na Gazeta
de Notícias, 9, 10 e 13 mar. 1880.
·
Rev. Bras.
Hist. vol.30 no.59 São Paulo June 2010
escrito � r i � � cúpula da vida política do Império, chegando a ocupar o
cargo de ministro de Estado, no entanto, foi lançado ao ostracismo por D. Pedro
II, após ter criticado o livro A Confederação dos Tamoios (1856), de Gonçalves
de Magalhães - escritor que fazia parte do seleto grupo de protegidos do
imperador -, a política do governo e as qualidades intelectuais do monarca.
Ressaltando
o fato de Alencar ser seu conterrâneo, Capistrano o apresentou como "o
primeiro e principal homem de letras brasileiro", "o fundador da
literatura brasileira", chamando a atenção para um aspecto de sua obra: o
interesse pelo povo, por suas tradições, usos e costumes. Afirmou que seu nome
deveria figurar no panteão da história, ao lado de grandes autores
estrangeiros, e destacou seu empenho em "criar para si a imortalidade no
curto prazo de vinte anos", através de obras que as gerações futuras
deveriam ler como ensinamentos.
Em
1879, passou a integrar o corpo de redatores da Gazeta de Notícias,
especializando-se na crítica literária, e prestou concurso para a Biblioteca
Pública da Corte, conquistando o primeiro lugar. Ao lado do Arquivo Público e
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a Biblioteca era guardiã
de um precioso acervo documental e reunia profissionais conceituados por seus
estudos históricos, que Capistrano saberá explorar como ninguém trazendo a tona
as mais ricas e reveladoras reflexões e descobertas sobre a história do Brasil.
Mesmo
tendo encontrado um lugar de destaque na Biblioteca, Capistrano optou por alçar
um novo voo: prestou concurso para o Imperial Colégio de Pedro II, em 1883. A
cadeira disputada era a de maior prestígio: Corografia e História do Brasil.
Defendeu a tese O descobrimento do Brasil e foi aprovado por 17 votos contra 5.
No mesmo ano começou a lecionar. Com a extinção da cadeira de Corografia e
História do Brasil em 1899, Capistrano foi posto em disponibilidade, alegando
incapacidade para ministrar aulas de História Geral, por ser especialista em
História do Brasil. Antes de morrer, já era considerado um grande erudito,
espécie de "enciclopédia" viva da história pátria.
Capistrano
destacava-se pela "segurança da investigação, abundância da informação,
profundidade do saber e inteligência do assunto", qualidades que o
distinguiriam de seus antecessores e contemporâneos. Seu livro Capítulos de
história colonial é considerado por Veríssimo como "a síntese mais
completa, mais engenhosa, mais perfeita e mais exata que poderíamos desejar da
nossa evolução histórica". Síntese de aproximadamente trinta anos de
estudos históricos sobre o Brasil. O autor também chama a atenção para o
conhecimento da historiografia alemã por parte de Capistrano, valorizando sua
utilização de métodos seguros de investigação histórica. Também aponta a
presença de uma direção filosófica em sua produção, capaz de livrá-lo de ser
"um simples erudito". Seu grande mérito teria sido a capacidade
crítica, empregada na análise de documentos e na crítica dos estudos
anteriores.
Após
a sua morte no fim de década de 1920 muitos eram os comentários sobe o legado e
a pessoa de Capistrano dentre muitos destaquei este: "Esse historiador
'sertanejo' seria uma espécie de mediador entre os mundos da civilização e da
barbárie, por possuir aquilo que então se esperava de um historiador: erudição,
cultura geral, informações originais, "habilidade de investigação
minuciosa, aliada ao método de comparação, dedução e exposição" e, talvez
o principal, o "sentimento da terra e da gente" brasileiras.
Coelho
Neto, por exemplo, apresentou-o como "um estranho no meio e no tempo"
por seu temperamento arredio, interpretado como uma "sobrevivência do
'bárbaro', latente no supercivilizado". Em sua opinião, Capistrano era um
"selvagem, que o estudo tornou um dos expoentes máximos da nossa
cultura", de modo que "o livro o purificou da barbárie fazendo-lhe o
nome atingir a glória".
Como
observou Assis Chateaubriand, o grande mérito de Capistrano teria sido
compreender a brasilidade - propriedade distintiva do Brasil e do brasileiro -
traduzindo-a por meio de seus estudos sobre as línguas e os costumes indígenas
e, também, sobre a história colonial.
O
próprio Capistrano definiu-se, certa vez, como um velho vaqueano, cujos
conhecimentos práticos permitiam trilhar caminhos antigos, pouco ou nada
explorados, no terreno da historiografia e da linguística indígena.
Para
nós que somos cearenses ele é um orgulho, para os brasileiros ele foi um grande
colaborador da escrita da História Nacional, para o imaginário de nosso país
ele é um pássaro que conseguiu romper os grilhões que a vida lhe impôs, e
conseguiu Vir, Ver e Vencer alçando voo sob as asas etéreas do conhecimento
histórico e linguístico.
Notas Bibliográficas
·
VAINFAS, Ronaldo. Capistrano de Abreu - Capítulos de
história colonial. In: MOTA, Lourenço Dantas (Org.). Introdução ao Brasil:
um banquete nos trópicos. 2.ed. São Paulo: Senac, 1999, p.187. Ver, também,
ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial, 1500-1800. Belo
Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988, p.256.
·
ABREU, Capistrano de. O caráter nacional e as origens do
povo brasileiro, in 1976, 4ª série, p.3-24, originalmente publicados em O
Globo, Rio de Janeiro, 21 jan. 1876 e 8 mar. 1876, respectivamente; e
História pátria, in 1976, 4ª série, p.3-24, originalmente publicados na Gazeta
de Notícias, 9, 10 e 13 mar. 1880.
·
Rev. Bras.
Hist. vol.30 no.59 São Paulo June 2010
escrito � r i � � cúpula da vida política do Império, chegando a ocupar o
cargo de ministro de Estado, no entanto, foi lançado ao ostracismo por D. Pedro
II, após ter criticado o livro A Confederação dos Tamoios (1856), de Gonçalves
de Magalhães - escritor que fazia parte do seleto grupo de protegidos do
imperador -, a política do governo e as qualidades intelectuais do monarca.
Ressaltando
o fato de Alencar ser seu conterrâneo, Capistrano o apresentou como "o
primeiro e principal homem de letras brasileiro", "o fundador da
literatura brasileira", chamando a atenção para um aspecto de sua obra: o
interesse pelo povo, por suas tradições, usos e costumes. Afirmou que seu nome
deveria figurar no panteão da história, ao lado de grandes autores
estrangeiros, e destacou seu empenho em "criar para si a imortalidade no
curto prazo de vinte anos", através de obras que as gerações futuras
deveriam ler como ensinamentos.
Em
1879, passou a integrar o corpo de redatores da Gazeta de Notícias,
especializando-se na crítica literária, e prestou concurso para a Biblioteca
Pública da Corte, conquistando o primeiro lugar. Ao lado do Arquivo Público e
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a Biblioteca era guardiã
de um precioso acervo documental e reunia profissionais conceituados por seus
estudos históricos, que Capistrano saberá explorar como ninguém trazendo a tona
as mais ricas e reveladoras reflexões e descobertas sobre a história do Brasil.
Mesmo
tendo encontrado um lugar de destaque na Biblioteca, Capistrano optou por alçar
um novo voo: prestou concurso para o Imperial Colégio de Pedro II, em 1883. A
cadeira disputada era a de maior prestígio: Corografia e História do Brasil.
Defendeu a tese O descobrimento do Brasil e foi aprovado por 17 votos contra 5.
No mesmo ano começou a lecionar. Com a extinção da cadeira de Corografia e
História do Brasil em 1899, Capistrano foi posto em disponibilidade, alegando
incapacidade para ministrar aulas de História Geral, por ser especialista em
História do Brasil. Antes de morrer, já era considerado um grande erudito,
espécie de "enciclopédia" viva da história pátria.
Capistrano
destacava-se pela "segurança da investigação, abundância da informação,
profundidade do saber e inteligência do assunto", qualidades que o
distinguiriam de seus antecessores e contemporâneos. Seu livro Capítulos de
história colonial é considerado por Veríssimo como "a síntese mais
completa, mais engenhosa, mais perfeita e mais exata que poderíamos desejar da
nossa evolução histórica". Síntese de aproximadamente trinta anos de
estudos históricos sobre o Brasil. O autor também chama a atenção para o
conhecimento da historiografia alemã por parte de Capistrano, valorizando sua
utilização de métodos seguros de investigação histórica. Também aponta a
presença de uma direção filosófica em sua produção, capaz de livrá-lo de ser
"um simples erudito". Seu grande mérito teria sido a capacidade
crítica, empregada na análise de documentos e na crítica dos estudos
anteriores.
Após
a sua morte no fim de década de 1920 muitos eram os comentários sobe o legado e
a pessoa de Capistrano dentre muitos destaquei este: "Esse historiador
'sertanejo' seria uma espécie de mediador entre os mundos da civilização e da
barbárie, por possuir aquilo que então se esperava de um historiador: erudição,
cultura geral, informações originais, "habilidade de investigação
minuciosa, aliada ao método de comparação, dedução e exposição" e, talvez
o principal, o "sentimento da terra e da gente" brasileiras.
Coelho
Neto, por exemplo, apresentou-o como "um estranho no meio e no tempo"
por seu temperamento arredio, interpretado como uma "sobrevivência do
'bárbaro', latente no supercivilizado". Em sua opinião, Capistrano era um
"selvagem, que o estudo tornou um dos expoentes máximos da nossa
cultura", de modo que "o livro o purificou da barbárie fazendo-lhe o
nome atingir a glória".
Como
observou Assis Chateaubriand, o grande mérito de Capistrano teria sido
compreender a brasilidade - propriedade distintiva do Brasil e do brasileiro -
traduzindo-a por meio de seus estudos sobre as línguas e os costumes indígenas
e, também, sobre a história colonial.
O
próprio Capistrano definiu-se, certa vez, como um velho vaqueano, cujos
conhecimentos práticos permitiam trilhar caminhos antigos, pouco ou nada
explorados, no terreno da historiografia e da linguística indígena.
Para
nós que somos cearenses ele é um orgulho, para os brasileiros ele foi um grande
colaborador da escrita da História Nacional, para o imaginário de nosso país
ele é um pássaro que conseguiu romper os grilhões que a vida lhe impôs, e
conseguiu Vir, Ver e Vencer alçando voo sob as asas etéreas do conhecimento
histórico e linguístico.
Notas Bibliográficas
·
VAINFAS, Ronaldo. Capistrano de Abreu - Capítulos de
história colonial. In: MOTA, Lourenço Dantas (Org.). Introdução ao Brasil:
um banquete nos trópicos. 2.ed. São Paulo: Senac, 1999, p.187. Ver, também,
ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial, 1500-1800. Belo
Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988, p.256.
·
ABREU, Capistrano de. O caráter nacional e as origens do
povo brasileiro, in 1976, 4ª série, p.3-24, originalmente publicados em O
Globo, Rio de Janeiro, 21 jan. 1876 e 8 mar. 1876, respectivamente; e
História pátria, in 1976, 4ª série, p.3-24, originalmente publicados na Gazeta
de Notícias, 9, 10 e 13 mar. 1880.
·
Rev. Bras.
Hist. vol.30 no.59 São Paulo June 2010
*Aluno da disciplina AÇÃO EDUCATIVA PATRIMONIAL, PROF. Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES
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