João
Capistrano Honório de Abreu foi um historiador brasileiro, nascido no município
de Maranguape, no Ceará, em 23 de outubro de 1853. Cursou humanidades no Recife
em 1869, ao voltar ao estado natal, fundou a Academia Francesa, com ideais
progressistas e anticlericais, fixou-se no Rio de Janeiro, em 1875, onde
exerceu o magistério e foi grande colaborador dos jornais fluminenses, como O
Globo e a Gazeta de Notícias.
Capistrano foi eternizado no campo histórico
por ter protagonizado uma renovação metodológica de interpretação e
investigação da história do Brasil. Esta nova ótica da história brasileira foi
materializada na obra Capítulos de
História Colonial, editado inicialmente me 1907, tal obra dissocia-se do
ideal até então bastante difundido, que via a História do Brasil a partir da
descoberta portuguesa, modelo defendido pelo historiador Francisco Adolfo
Varnhage. Foi a partir da abordagem de Capistrano de Abreu que os povos nativos
brasileiros residentes nestas terras antes dos portugueses tiveram visibilidade
histórica. O autor também se distancia da chamada história factual, onde os
emblemáticos fatos e heróis são exaltados, em detrimento do olhar coletivo da
sociedade.
Enquanto
Varnhagen, em sua obra História Geral do Brasil, centraliza sua visão às elites
brasileiras, em especial à figura do imperador, Capistrano demonstra seu
interesse em demonstrar o povo brasileiro como sujeito de sua história, de modo
a observar e valorizar as essências indígenas do Brasil, bem como levantar
questionamentos relacionados às raças e ao etnocentrismo. Valores relacionados
à figura do colonizador português, à dominação étnica, aos direitos das elites,
à sociedade escravista e aos direitos gerais da sociedade dominante tudo isso
dá lugar à valorização do nativo brasileiro, seus costumes, seus interesses,
sua cultura e sua natureza.
Capistrano
de Abreu torna-se um “redescobridor” do Brasil ao ser o primeiro a estabelecer
as identidades do povo brasileiro, a partir de uma visão não mais presa aos
assuntos políticos, mas através de uma ótica humana de abordagem. A obra de
Capistrano torna-se referencia ao destacar temas sócio-econômicos, obtendo
fontes e testemunhas e documentos inéditos para a construção de um discurso
histórico moderno e inovador. Além destas particularidades de Capistrano, uma
de suas características mais importantes, no ponto de vista historiográfico, é
a considerável carga interpretativa em suas obras, afastando-se cada vez mais
dos ideais positivistas de abordagem, para o autor a História não é uma questão
de fato, ela exige imaginação que penetre o motivo da ação.
Diferentemente
de Varnhagen, Capistrado de Abreu uma escrita distante do erudito, linguagem
mais acessível e simples, baseado em abordagens mais socioeconômicas do que
propriamente políticas. O autor dá voz àqueles que até então eram tratados com
indiferença ou vistos de forma periférica, transformando a história em um
mecanismo vivo e dinâmico, onde diferenças regionais, étnicas e culturais
desenvolve uma grande ciranda que movimenta as discussões e interpretações
históricas. Capistrano muda o sujeito da história do Brasil, assim como
desenvolve a diversidade de objetos e de temáticas históricas, as elites vão
abrindo espaço ao povo brasileiro, que aos poucos vai construindo sua
identidade nacional, baseada em suas reais origens.
Aluno do Curso de História da UECE, disciplina: Laboratório de História do Brasil, prof. dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.
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