Fundador
da progressista Academia Francesa de Fortaleza, João Capistrano Honório de
Abreu (1853-1927) também “fundou” uma nova forma de escrever a nossa História.
Dotado de incrível argúcia, Capistrano remodelou a historiografia, trazendo a
esta um tom mais crítico e de maior sensibilidade.
A
ele a História não parecia restringir-se somente aos fatos, não! Havia de se
investigar os motivos, os quereres e os sentimentos. Vê-se neste ilustre
historiador a capacidade de produzir a História pelo outro e para o outro, sem
decepar de suas análises as diversas classes sociais compositoras de nosso Brasil.
Ao
escrever “Capítulos de História Colonial”, Capistrano de Abreu tornou-se, com
sua História voltada à análise do povo brasileiro, de sua cultura, suas lutas,
suas misturas e seus costumes, da natureza local e seu clima, contra ponto de
Varnhagen, que, filho de seu tempo, procurou dar na História que produzia ares
de importância máxima à forma de colonização empregada pelos portugueses no
Brasil, a fim de legitimar lhes o poder.
Conhecido
como “O Heródoto do povo”, esse cearense autodidata utilizou-se de uma escrita
moderna (para a época) que, mesmo documental e descritiva, descortinava ao
leitor a variedade do povo brasileiro, valorizando o mestiço e o nativo, não
impondo lhes apenas o papel de figuras secundárias. Devorador de livros,
produzia prolificamente, trabalhando a fundo os assuntos os quais se dispunha
analisar. Sua síntese fazia brotar as semelhanças e as diferenças que estiveram
sempre intercaladas dentro do processo colonizador brasileiro, graças a isso
pôde questionar as obras de seus antecessores, superando-os.
Creio
que tudo o que se possa escrever, hoje, a respeito de Capistrano, corre o risco
de não alcançar a paixão com que ele estudou a História. Se cada historiador de
hoje busca-se o fato histórico e suas interpretações como ele buscou, quiçá a
produção historiográfica brasileira conseguisse desabrochar mais uma vez, em
nova floração. Enquanto isso, colhemos as flores que esse maranguapense nos
deixou e depositamo-las aos pés de Clio, requerendo sua benção e sua
inspiração.
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