quarta-feira, 19 de junho de 2013

Historiografia Brasileira em Capistrano de Abreu ( Por: Eduardo Sousa de Goes).*

              João Capistrano Honório de Abreu foi um historiador brasileiro, nascido no município de Maranguape, no Ceará, em 23 de outubro de 1853. Cursou humanidades no Recife em 1869, ao voltar ao estado natal, fundou a Academia Francesa, com ideais progressistas e anticlericais, fixou-se no Rio de Janeiro, em 1875, onde exerceu o magistério e foi grande colaborador dos jornais fluminenses, como O Globo e a Gazeta de Notícias.
 Capistrano foi eternizado no campo histórico por ter protagonizado uma renovação metodológica de interpretação e investigação da história do Brasil. Esta nova ótica da história brasileira foi materializada na obra Capítulos de História Colonial, editado inicialmente me 1907, tal obra dissocia-se do ideal até então bastante difundido, que via a História do Brasil a partir da descoberta portuguesa, modelo defendido pelo historiador Francisco Adolfo Varnhage. Foi a partir da abordagem de Capistrano de Abreu que os povos nativos brasileiros residentes nestas terras antes dos portugueses tiveram visibilidade histórica. O autor também se distancia da chamada história factual, onde os emblemáticos fatos e heróis são exaltados, em detrimento do olhar coletivo da sociedade.
Enquanto Varnhagen, em sua obra História Geral do Brasil, centraliza sua visão às elites brasileiras, em especial à figura do imperador, Capistrano demonstra seu interesse em demonstrar o povo brasileiro como sujeito de sua história, de modo a observar e valorizar as essências indígenas do Brasil, bem como levantar questionamentos relacionados às raças e ao etnocentrismo. Valores relacionados à figura do colonizador português, à dominação étnica, aos direitos das elites, à sociedade escravista e aos direitos gerais da sociedade dominante tudo isso dá lugar à valorização do nativo brasileiro, seus costumes, seus interesses, sua cultura e sua natureza.
Capistrano de Abreu torna-se um “redescobridor” do Brasil ao ser o primeiro a estabelecer as identidades do povo brasileiro, a partir de uma visão não mais presa aos assuntos políticos, mas através de uma ótica humana de abordagem. A obra de Capistrano torna-se referencia ao destacar temas sócio-econômicos, obtendo fontes e testemunhas e documentos inéditos para a construção de um discurso histórico moderno e inovador. Além destas particularidades de Capistrano, uma de suas características mais importantes, no ponto de vista historiográfico, é a considerável carga interpretativa em suas obras, afastando-se cada vez mais dos ideais positivistas de abordagem, para o autor a História não é uma questão de fato, ela exige imaginação que penetre o motivo da ação.
Diferentemente de Varnhagen, Capistrado de Abreu uma escrita distante do erudito, linguagem mais acessível e simples, baseado em abordagens mais socioeconômicas do que propriamente políticas. O autor dá voz àqueles que até então eram tratados com indiferença ou vistos de forma periférica, transformando a história em um mecanismo vivo e dinâmico, onde diferenças regionais, étnicas e culturais desenvolve uma grande ciranda que movimenta as discussões e interpretações históricas. Capistrano muda o sujeito da história do Brasil, assim como desenvolve a diversidade de objetos e de temáticas históricas, as elites vão abrindo espaço ao povo brasileiro, que aos poucos vai construindo sua identidade nacional, baseada em suas reais origens.
Aluno do Curso de História da UECE, disciplina: Laboratório de História do Brasil, prof. dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.


              



   


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