quarta-feira, 19 de junho de 2013

OS PRIMEIROS ESCRAVOS NO CEARÁ – ABOLIÇÃO 1884. AUTOR: SEBASTIÃO ALVES LOURENÇO ( Por : CAMILA BANDEIRA MOURA *)


Retrato aqui um dos bens de cultura imaterial, um dos que temos de mais rico na região nordeste, bens estes que dizem respeito às práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, celebrações, modos de fazer, formas de expressão cênica, plásticas, musicais ou lúdicas, assim também como nos lugares, as práticas culturais coletivas.
A literatura de cordel enraíza no cotidiano a história, a memória regional e nacional, a identidade e a formação da sociedade brasileira. É assim que comento a literatura de cordel de Sebastião Alves Lourenço, conhecido como Sebastião Chicute, mestre nas categorias de cordel e reisado. Nasceu no município de Aratuba-Ce, em 1934, e desde a infância se dedica à literatura de cordel. Faz seu primeiro cordel para o comércio de venda no ano de 1967. Já em 1970 muda-se para outro município, Capistrano, onde diversifica seus trabalhos no campo cultural. Em 2006 recebe o diploma de Mestre da Cultura Popular Brasileira do Estado do Ceará.
A literatura de Sebastião Chicute no cordel ‘’Os primeiros Escravos no Ceará –Abolição 1884’’ nos traz a preocupação do autor com a inspiração divina que lhe presentearia com o dom poético para escrever seu trabalho. Além da escravidão dos negros, também retrata o trabalho escravo feito por indígenas, ‘’e sendo os primeiros escravos/ por caboclos eram chamados’’. Falou também da proteção que a igreja dava a regime de escravidão com os padres jesuítas que catequizavam os índios em nome de da ‘’ordem social’’. Mostra o aumento populacional no interior do Ceará, ‘’claro que tinha que aumentar/ quase trinta mil escravos/ somente para trabalhar’’, fala da relação entre tráfico negreiro e o crescimento populacional na segunda metade do século XIX, chegando à metade dos habitantes serem escravos que trabalhavam com os serviços mais pesados. Lembra também de José Martiliano, pai de José de Alencar, e sua preocupação em amenizar o sofrimento dos escravos. Fala da cooperativa fundada por dez moças ao final de 1880 que destinavam os lucros para a alforria de escravos, uma ‘’entidade solidária’’ onde os trabalhos realizados em prol da alforria eram apenas do conhecimento de poucos. Fala dos revolucionários em prol da liberdade, da alegria das batalhas e da felicidade ao fim da escravidão. É bonito ver a lembrança que o autor faz a justa importância das mulheres na causa abolicionista, ainda pouco vista nos livros de história. Nos traz a lembrança os cativos do Acarape, que tem sua liberdade no dia 1º de janeiro de 1883, com a presença de ilustres abolicionistas, mas alfineta, e fala da desunião do município de Acarape com sua nova divisão, onde parte da região passa a se chamar Redenção, em lembrança a liberdade dos escravos que viviam ali. Passa por outras cidades citando as vitórias abolicionistas além de Fortaleza, como Sobral, Trairi, Pacatuba, Santa Quitéria, Camocim, Morada Nova entre outras, ‘’foi caindo um por um/ e fazendeiro achando ruim’’. O município de Fortaleza  não deveria esquecer jamais dos trabalhos desumanos, assim diziam os discursos após o fim da escravidão, ‘’parabéns abolição’’, finaliza o cordel lembrando da abolição ‘’somente assinada/ em forma d edital’’, no dia 13 de maio de 1888 pela princesa do Brasil, Princesa Isabel.

Reconhecer a importância do cordel como parte do nosso patrimônio cultural é reconhecer a nossa cultura lembrada nos versos de cordelistas como Sebastião Chicute que nos traz com riqueza de informações um momento tão importante para a história da abolição dos escravos do Ceará. É a literatura popular, hoje reconhecida, que traz parte da cultura nordestina e brasileira que além de nos proporcionar conhecimento, nos desperta o interesse pela leitura. Interesse este que fez surgir no nordeste poetas de expressão como Patativa do Assaré e nos revela a riqueza musical de Luiz Gonzaga, que sintetiza a grandeza da arte popular nordestina.

* Aluna do Curso de História da UECE, disciplina AÇÃO EDUCATIVA PATRIMONIAL, Prof. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES.

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