quinta-feira, 13 de junho de 2013

Literatura de Cordel e o Mestre Sebastião Chicute ( Por MÁRCIO DE SOUSA GURGEL*)

Literatura de cordel também conhecida no Brasil como folheto, é um gênero literário popular escrito frequentemente na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos. Remonta ao século XVI, quando o Renascimento popularizou a impressão de relatos orais, e mantém-se uma forma literária popular no Brasil. O nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal. No Nordeste do Brasil o nome foi herdado, mas a tradição do barbante não se perpetuou: o folheto brasileiro pode ou não estar exposto em barbantes. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, também usadas nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores. Para reunir os expoentes deste gênero literário típico do Brasil, foi fundada em 1988 a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro.


História

Literatura na forma de folhetos ou panfletos tem sido usada ao longo de séculos, como meio económico. Folheto holandês de 1637, durante a tulipomania

A história da literatura de cordel começa com o romanceiro do Renascimento, quando se iniciou impressão de relatos tradicionalmente orais feitos pelos trovadores medievais, e desenvolve-se até à Idade Contemporânea. O nome cordel está ligado à forma de comercialização desses folhetos em Portugal, onde eram pendurados em cordões, chamados de cordéis.1 Inicialmente, eles também continham peças de teatro, como as de autoria de Gil Vicente (1465-1536). Foram os portugueses que introduziram o cordel no Brasil desde o início da colonização.

Chegada ao Brasil

A literatura de cordel chegou ao Brasil no século XVIII, através dos portugueses. Aos poucos, foi se tornando cada vez mais popular. Nos dias de hoje, podemos encontrar este tipo de literatura, principalmente na região Nordeste do Brasil. Ainda são vendidos em lonas ou malas estendidas em feiras populares.

De custo baixo, geralmente estes pequenos livros são vendidos pelos próprios autores. Fazem grande sucesso em estados como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Bahia. Este sucesso ocorre em função do preço baixo, do tom humorístico de muitos deles e também por retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região. Os principais assuntos retratados nos livretos são: festas, política, secas, disputas, brigas, milagres, vida dos cangaceiros, atos de heroísmo, milagres, morte de personalidades etc.

Em algumas situações, estes poemas são acompanhados de violas e recitados em praças com a presença do público.

Um dos poetas da literatura de cordel que fez mais sucesso até hoje foi Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Acredita-se que ele tenha escrito mais de mil folhetos. Mais recentes, podemos citar os poetas José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), Téo Azevedo. Zé Melancia, Zé Vicente, José Pacheco da Rosa, Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra, João de Cristo Rei e Ignácio da Catingueira.Vários escritores nordestinos foram influenciados pela literatura de cordel. Dentre eles podemos citar: João Cabral de Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.

Poética do cordel:

- Quadra: estrofe de quatro versos.

- Sextilha: estrofe de seis versos.

- Septilha: é a mais rara, pois é composta por sete versos.

- Oitava: estrofe de oito versos.

- Quadrão: os três primeiros versos rimam entre si; o quarto com o oitavo, e o quinto, o sexto e o sétimo também entre si.

- Décima: estrofe de dez versos.

- Martelo: estrofes formadas por decassílabos (comuns em desafios e versos heróicos).

Literatura Oral

Faz parte da literatura oral os mitos, lendas, contos e provérbios que são transmitidos oralmente de geração para geração. Geralmente, não se conhece os autores reais deste tipo de literatura e, acredita-se, que muitas destas estórias são modificadas com o passar do tempo. Muitas vezes, encontramos o mesmo conto ou lenda com características diferentes em regiões diferentes do Brasil. A literatura oral é considerada uma importante fonte de memória popular e revela o imaginário do tempo e espaço onde foi criada.

Muitos historiadores e antropólogos estudam este tipo de literatura com o objetivo de buscarem informações preciosas sobre a cultura e a história de uma época. Em meio a ficção, resgata-se dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos, objetos, linguagem, arquitetura etc.

Podemos considerar como sendo literatura oral os cantos, encenações e textos populares que são representados nos folguedos.

Exemplos de mitos, lendas e folclore brasileiro: saci-pererê, curupira, boto cor de rosa, caipora, Iara, boitatá,

lobisomem, mula-sem-cabeça, negrinho do pastoreio.



Histórico:



Sebastião Chicute começou a brincar de reis, como ele diz, em 1952. “Naquele tempo os meninos iniciavam brincando de dama, não tinha maldade, hoje os meninos não querem vestir a roupa de dama.” Como dama, criança, pode observar todos os passos e todas as gingas do reisado com os mestres e caboclos que brincavam à época.

Esta primeira experiência foi vivenciada na serra de Aratuba.. Lá segundo ele havia muitos reisados,”todo mundo brincava na festa dos reis.” Então ele foi crescendo neste ambiente. É do reisado que trouxe a vertente do cordel que veio desempenhar mais tarde.

De Aratuba veio para Capistrano e sempre cultivando a tradição dos reis. Durante o resto do ano fazia quermesses, outra tradição popular nascida nas festas da igreja, nelas os destaques eram as rainhas dos partidos azul e encarnado, assim se chamava o vermelho antigamente. Em Portugal ainda é assim. Bricou reisado praticamente todos os anos, passando por todas as personagens e figuras do reisado.

Na década de 80 foi para Itapiúna. Lá teve apoio da Prefeitura. Se apresentou em Fortaleza na feira dos municípios e para a dra. Lirisse Porto, uma admiradora do reisado e da cultura popular. O grupo de Itapiúna t segundo ele era bem organizado, tinha todo apoio: material, vestimentas e transporte.

Na década de 90 veio definitivamente para Capistrano. Brincou nesse período no reisado do mestre Chico do Mundô e depois organizou o seu grupo com os mais antigos do lugar, com os quais brinca até hoje.

Com a criação da secretaria de Cultura em 2005, o grupo teve um novo impulso brincando em vários lugares dentro e fora do município de Capistrano.

Diferentemente de outras formas de literatura, o cordel é derivado da tradição oral. Isto é, surge da fala comum das pessoas, e também das histórias como contadas por elas, e não como fixadas no papel. "Onde quer que existam populações que não sabem ler nem escrever, existirá poesia oral, conto oral, narrativa oral, porque as pessoas não acham que o analfabetismo pode impedi-las de praticar a poesia e a narrativa. A literatura nasceu oral e foi assim durante milênios. Quando a Ilíada e a Odisseia foram transpostas pela primeira vez para o papel, já tinham séculos de idade", afirma o escritor Braulio Tavares



DO REISADO AO CORDEL



As músicas de entrada do reisado e as das figuras. São decoradas, mas no seu desenvolvimento carecem da criatividade do mestre e seus auxiliares, que improvisam de acordo com o tema, com a clientela e o local. Daí surgiu no Bastião Chicute a sua “veia poética”. Ao descobrir a poesia viajou nela discorrendo vários temas em cerca de vinte cordéis publicados e inúmeros versos poemas e canções inéditas .Surge assim um cordelista, um poeta de banca, posto que não é violeiro. Mas a sua capacidade de improvisar no reisado é que dá originalidade nas suas apresentações.

Toda esta experiência está sendo passada para adultos , jovens e crianças que participam do seu grupo, como forma de manter a tradição.



MESTRE DA CULTURA

Sebastião Chicute, é um autêntico artista popular, que dedicou a sua vida à tradição herdada de seus antepassados repassados a ele por seus contemporâneos. Tanto no reisado como na literatura de cordel, tanto no rádio com seu programa tarde sertaneja, como nas quermesses quando ainda não tinha televisão no interior. Tem procurado, como foi dito repassar esta tradição para os que lhe acompanham, mas também para estudantes, da escola básica e superior, em Capistrano, Quixadá e ultimamente em Maranguape, proferindo palestras com seu linguajar de poeta popular. Por isso Chicute merece ser agraciado com o título de Mestre da Cultura do Ceará, que em muito boa hora chegou ao nosso Estado de forma pioneira, pela Secretaria de Cultura do Estado.

A palavra cordel significa justamente por esse atraso grande que existia, nos princípio num era atraso, era um jeito de ser, aquilo mermo quem diz, diz a velha, o velho ditado, quem num tem cachorro caça com gato, né? Pois bem, se ninguém tinha cola, ninguém tinha gráfica. Qué que fazia um cordel? Melava de grude, estendia numa vara, numa corda assim (Seu Sebastião pega o livreto que tem em mãos, abre-o e simula um cordel estendido numa corda) e por esse motivo ficou sendo literatura de cordel [..].

É possível observar que a maneira de falar do cordelista exerce bastante influência em sua escrita, o que nos possibilita um leitura de que tudo é válido para manter e valorizar a sonoridade do poema levantando reflexões do que viria a ser “o correto” ou “o errado” segundo as normas da gramática que condena algumas práticas desta tradição, como a falha na concordância, conforme podemos observar neste pequeno fragmento do cordel A vida e a morte de Frei Damião:

[...] Resolveu vir para o Brasil

Foi este o seu ideal

Bom frade bom confessor

Nos trabalhos clerical

Foi um servo que viveu

Pra nos defender do mal [...]

* Aluno do Curso de História da UECE, disciplina AÇÃO EDUCATIVA PATRIMONIAL, Prof. Dr. FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES

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